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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Silêncio, resgate do "mais" da vida

Em 2008, quando aconteceu aquela - agora penúltima - tragédia em Santa Catarina, eu, Claudia Bia, escrevi o texto abaixo para o espaço que assino no jornal Município Dia-a-Dia, em Brusque:





Silêncio
 Hoje, a tela aqui do meu computador parece, mais do que nunca, uma folha de papel em branco. Daquelas impossíveis de preencher, pesadelo de qualquer pessoa que tenha o hábito de escrever. Hoje, as palavras, minhas queridas amigas, ficaram fracas. Insuficientes.

Hoje, não consigo me permitir passeios mentais pelo meu mundo pop, composto de sons, imagens e idéias, tudo sem raízes locais, um mundo dentro do mundo. Meu mundo interessante e confortável, com suas pequenas descobertas e pequenos resmungos. Neste momento, tudo é supérfluo. Não é hora de conversar sobre diversão.

(...)

Hoje, sou a voz do nada.

Hoje, eu não sei. Hoje, quase tudo o que povoa minha vida, está em pausa. Louvando a suprema sorte de não ter ficado incomunicável, virei porta-voz do espanto total, repassando notícias para gente preocupada com a situação, por todo tipo de motivos. Amigos meus, amigos e parentes de pessoas que vivem aqui por perto, gente que só estava tentando entender o que está acontecendo, assim como nós todos. Desnorteados, mas atentos e genuinamente preocupados, procurando uma forma de ajudar.

Hoje, só compartilho o desejo geral pelo sol, pela chance da volta da solidez da normalidade possível. Um sol de desenho de criança, confiante. Em que meu mundo, seu mundo, todos os mundos individuais.... voltem a ter sentido.



Depois dos últimos dias, em que as águas subiram novamente, muito mais avassaladoras, aqui na nossa cidade,  o mesmo silêncio incrédulo, angustiado, tristíssimo, voltou a cobrir a vida normal, com seus pequenos desejos e grandes vontades de usar todas as ferramentas que nos trazem felicidade. 

Mas esse silêncio não pode ser de desânimo. As perdas serão superadas. E serão mais rapidamente superadas com as mistura de solidariedade, esperança e teimosia em saborear todas as pequenas alegrias, carinhos, todos os momentos de respiração calma em meio ao caos do momento. 

A gente sempre quer mais. Hoje, este mais é  a certeza de que temos e teremos muito para agradecer.

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